sábado, 15 de maio de 2010

As Sete Lágrimas de um Preto-Velho

Num cantinho de um terreiro, sentado num banquinho, pitando o seu cachimbo, um triste preto velho chorava. De seus olhos molhados, esquisitas lágrimas desciam-lhe pelas faces, não sei por que, contei-as, foram sete.
Na incontida vontade de saber, aproximei-me e o interroguei:
-Fala meu Velho, diz ao teu filho por que externas assim uma visível dor?
E ele, suavemente respondeu:
-Estás vendo esta multidão que entra e sai? As lágrimas contadas estão distribuídas a cada uma delas.
- A primeira, eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber...
- A segunda, a esses eternos duvidosos, que acreditam desacreditando, na expectativa de um milagre que os façam alcançar, aquilo que seus próprios merecimentos negam.
- A terceira, distribuí aos maus, aqueles que somente procuram a Umbanda em busca de vingança, desejando prejudicar aos seus semelhantes.
- A quarta, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual, e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma, e não conhecem a palavra gratidão.
- A quinta, aos que chegam suaves, com risos, o elogio na flor dos lábios, mas se olharem bem o seu semblante, verão escrito: "Creio na Umbanda, nos teus caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso ou me curarem disso ou daquilo".
- A sexta, eu dei aos fúteis que vão de centro em centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos, e seus olhos revelam um interesse diferente.
- A sétima, filho, nota como foi grande e como deslizou pesada: Foi a última lágrima, aquela que vive nos "olhos" de todos os Orixás. Fiz a doação dessas aos médiuns vaidosos, que só aparecem no centro em dia de festa e faltam as doutrinas. Esquecem que existem tantos irmãos precisando de caridade e tantas criancinhas precisando de amparo material e espiritual.
Assim, filho meu, foi para esses todos que vistes cair, uma a uma as sete lágrimas de um Preto-Velho.

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